A humanidade sem amor

Eu poderia me apaixonar por alguém que apenas me sorri e concorda com todas as minhas visões idiossincráticas e talvez pouco reais;

Eu acreditaria que a passividade alheia é o bálsamo para a alma e a visão monolítica é a melhor forma para tornar um relacionamento saudável;

Eu esqueceria de escutar as vontades do meu coração e simplesmente faria o que é “certo”, sem levar em consideração o frio na barriga e o leve tremor que as mãos sofrem ao toque de alguém especial;

Eu certamente estaria apta a gerir o mundo e a manufaturar sentimentos em pequenas cápsulas e adesivá-las com as seguintes inscrições: “Use com moderação”;

Eu esqueceria completamente da beleza de um dia ao lado de um ser que complementa os meus pensamentos, entende cada mensagem transmitida pelo meu olhar e me embala nos braços como se eu fosse a criatura mais frágil do planeta;

Eu não me importaria em dizer a outrem que saísse pela mesma porta por onde entrou e não sentiria um só traço de remorso por banir esse intruso da minha realidade;

Eu não choraria, não sorriria, não teria crises de ciúmes, não cederia a pressões, não daria abraços emocionados, não amargaria saudades, dores de cotovelo, não dormiria unida a alguém, não me reconciliaria...

Eu jamais teria rotinas ou iria gastar horas escolhendo roupas e perfumes para ocasiões especiais;

Finalmente, eu envelheceria sem ter a consciência de que tudo que vivi não passou de um simulacro pálido, que se manifestou como um corpo sem alma, um vaso sem flores, entre outras associações básicas e inseparáveis...


Postagens mais visitadas