A utopia aos 12 e aos 38 anos

Utopia é uma palavra que nem sei por quê sempre fez parte da minha vida. Achei certa vez uma redação que fiz na escola, na aula da temida e brilhante professora Janir, na qual eu usei a expressão "utopicamente falando", naquela fase entre infância e adolescência, onde os dramas brotam, as incertezas gritam - enfim, quem passou dos 12 anos de idade sabe do que estou falando.

Para mim, utopia era como viver uma realidade ideal, plena, cheia de tudo o que nos eleva. Eu não conhecia o seu antônimo, a distopia. No máximo, flertei algumas vezes com ela, sem saber seu nome. Hoje, quando me lembro da professora Janir, me vem a sensação de uma busca pela excelência, de criar algo sublime, formalmente perfeito. Não sei do paradeiro da mestra, mas gostaria de bater um papo com ela sobre distopia e conhecer a sua opinião sobre a realidade que nos é apresentada hoje.

Em outros tempos, imaginava que a vida caminhava em linha reta e evolutiva. Que um futuro melhor era algo certeiro. Na visão mais otimista, provavelmente utópica, minha crença girava em torno da ideia de que as mentes se expandem, a sociedade abarca e transforma em senso comum novos olhares e que a humanidade, coletivamente, se tornaria mais inclusiva, tolerante, inteligente e próspera.

Foi então que os anos se passaram, fatos se avolumaram na minha biografia e nas observações da vida lá fora - política, economia, artes, comportamento, relações de trabalho etc. - e veio a convicção de que simplesmente é ingenuidade acreditar em transformação uniforme. É mito. 

Escolho apenas aceitar que a fase mais bruta de nossos tempos recentes dará lugar, em algum momento, a dias com mais esperança, lucidez, valores e práticas menos "distópicos". Será que estou "utopicamente falando"?


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