O preço alto de ser bom


É bonito ver uma atriz que explora todo o potencial de seu corpo e voz para dar vida a uma personagem concebida há mais de 70 anos e vivente em uma China fantasiosa. Refiro-me à Denise Fraga, protagonista da peça A Alma Boa de Setsuan, escrita pelo alemão Bertold Brecht, baseada em uma lenda sobre a dicotomia entre o bem e mal.

Com elenco afinado, a encenação de quase duas horas de duração entretém, faz pensar e envolve o público, que seguramente não pode fugir do carisma de Denise e seus trejeitos impagáveis, ao interpretar a prostituta Chen Tê e seu primo, Chui Ta. A aventura começa quando os deuses descem à Terra a fim de encontrar uma alma boa. Eles aportam em Setsuan, uma cidade repleta de maltrapilhos famintos e entregues a pequenos golpes para sobreviver.

Ao solicitar abrigo, os deuses são repudiados por vários moradores, ao contrário de Chen Tê, que está disposta a dividir sua pobreza com os forasteiros. Em recompensa, a moça recebe um saco de moedas que torna as coisas cada vez mais difíceis para ela. Toda a sorte de miseráveis aproveita-se de sua bondade, comentada aos quatro ventos da cidade.

Cansada da exploração e sem saber como dizer não aos necessitados, Chen Tê cria o alter ego Chui Ta, o primo com pulso firme para conduzir a loja de fumo, comprada com a recompensa dos deuses, e colocar os abusadores em seus devidos lugares. O conflito entre ser boa ou má vivido pela moça e suas peripécias são pontuadas por humor, momentos de reflexão e performance intensa do elenco, que tem participação fundamental no sucesso da montagem.

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