O Ritual do Imbróglio


A oradora de formatura daquela turma dizia o seguinte: “Agradeço, enfim, a todos os familiares e amigos por compartilharem conosco a alegria que sentimos nessa data tão especial.” Ela concluiu com essa frase um discurso que teve como mote ressaltar as particularidades dos elementos que mais obtiveram destaque naqueles quatro anos de curso. Todos aplaudiram, mas, para alguns formandos, ficara um gosto amargo na boca, uma sensação de que todo aquele ritual era um imbróglio.
A moça dissera que uns eram dados aos gracejos durante as aulas; outros, utópicos e sonhadores; o terceiro grupo a que se referiu foi aos boêmios que freqüentavam os bares localizados nas imediações da universidade. Tristes ficaram os que não foram mencionados. Houve os que sentiram alívio por não serem citados, por medo de que ações não muito felizes fossem descobertas. O julgamento de outrem era a última coisa que desejavam naquela ocasião.
Um grupo especificamente estava na mira dos críticos: os boêmios. Os pais comentavam, aturdidos, o absurdo e o desgosto que era custear os estudos de um filho e vê-lo entregue ao consumo desmedido de álcool.
O clube da boemia estava alheio ao falatório e ria daquela situação bizarra. O grupo acreditava que os pais eram um tanto provincianos e não entendiam as fases que os estudantes passavam até se tornarem profissionais sérios e competentes, que teriam que se preocupar pelo resto da vida com as reputações.
O fim de uma era agradável, cheia de altos e baixos, mas satisfatória, repleta de descobertas. O novo período que chegava causava temor na maioria daquela platéia. Arranjariam empregos? Casar-se-iam com belos parceiros e teriam uma família estruturada e enfadonha como aquelas de que faziam parte? O que o futuro reservaria aos engraçadinhos, sonhadores, beberrões e alegres estudantes daquela turma?

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