Dilaceração de corpos e histórias


Acabo de assistir a uma matéria, no Fantástico, sobre a chacina de trinta pessoas por policiais militares, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. O tema foi abordado sob a ótica dos familiares das vítimas.

Entre os mortos, quatro adolescentes na faixa dos treze anos. O cotidiano e as particularidades dos meninos foram relatados. Os retratos foram feitos pelas mães deles.

A intenção da reportagem de despertar indignação nos espectadores não deve ser repudiada, no entanto, o veículo de comunicação não cumpriu seu papel social, pois informou apenas as conseqüências de um problema de proporções muito maiores.

Quadro delineado: Profissionais com formação duvidosa, péssimos salários, exposição a estresse diário sem acompanhamento adequado; população carente, sem infra-estrutura, predisposta à incidência da marginalidade e violência. Ambos os grupos são produto de uma sociedade excludente, desigual e indiferente às carências dos mais necessitados.

Os formadores de opinião exploram as figuras das vítimas apenas depois que morrem. Enquanto tinham vida e uma possibilidade remota de evadir daquele contexto sem perspectivas, nada se fez. Outras chacinas virão e mais uma vez pequenos Felipes e Brunos terão as carnes e as vidas dilaceradas. E outros policiais incapazes continuarão atuando nas comunidades pobres – e matando. É um círculo vicioso que ninguém faz nada para erradicar.

Postagens mais visitadas