Andróides
Descartabilidade. Nem sei se essa palavra existe. Acabo de construir uma pirâmide cheia de sonhos e objetivos desfeitos e encimá-la com meu presumido neologismo.
Sinto que às vezes apresento ideias nostálgicas inerentes a um tempo que não vivi. Uma época em que a palavra dita tinha o peso de um contrato lavrado em cartório e não existia a "sensação" de "ser". "Era-se" e ponto.
De onde vem tanta perseverança e resiliência de laboratório, tão sintética quanto qualquer alopatia vendida por aí? As bocas sorriem sem sentimento e os olhos que miram os nossos aparentam conteúdo, mas, no fundo, são vazios.
Há fórmulas para tudo: falar em projetos longínquos, dar apertos de mãos firmes, ter os cabelos escovados, as mãos e os dentes em perfeita apresentação (como peças do mais puro mármore) e as roupas talhadas como se fossem a segunda pele.
Andróides de botox, de frases feitas, adeptos dos padrões.
Todo o resto deve ser descartado. Morto e ignorado.
Todo o resto deve ser descartado. Morto e ignorado.