A fome de sentidos

Tenho a fome do mundo dentro de mim. A mesma fome que devora milhões de mulheres por dentro. A fome da solidão; a fome da “incompletude”; a fome de viver uma vida mais bonita e verdadeira; a fome de ser eu mesma, não importando quem eu seja; a fome de não viver nem para e nem pelos outros e sim por mim mesma; a fome de andar pelas minhas próprias pernas, sem buscar muletas desnecessárias; a fome de SER...

Sonhei com uma cena bizarra...

Na companhia da minha mãe, vi dois meninos mortos, cada qual no pé de uma árvore, de costas, ambos dilacerados, com as faces voltadas para a terra, com suas identidades cadavéricas resguardadas dos olhares curiosos. Duas crianças sem rosto, sem história, descartadas como aquilo que não serve para mais nada. Atiradas ao relento como bichos vadios, sem eira nem beira, abandonados à própria sorte.

O que isso significa?

Dizem que as matilhas, após períodos de escassez de alimento, destroçam o que veem pela frente, sem consumir o produto da caçada. É como se a fome acumulada deixasse os lobos cegos, perdidos, fadados ao cometimento de falhas. Essa é uma das ideias apresentadas no livro “Mulheres que Correm com os Lobos”, que sustenta ao longo de suas páginas que os sonhos trazem informações valiosas da natureza selvagem da mulher.

A matilha desnorteada teria destruído a vida daqueles meninos na faixa dos seis ou oito anos de idade? Ou seja, a matilha = fome, representa um momento da vida em que precisamos de algo mais? Estou maturando tudo isso e ainda impressionada com a força dessas imagens, que ficaram cristalizadas nas minhas lembranças. Meu inconsciente não foi nem um pouco complacente comigo: mandou seu recado árido e nas entrelinhas ainda exprimiu que devo investigar os sentidos possíveis e criar “planos de ação” para enfrentar meus monstros.

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