A massa e a vanguarda

Os eternos conflitos entre popular e erudito, o superficial e o profundo, a massa e a vanguarda são o tema dessa crônica. Alimento-me dos produtos pop e das repercussões e opiniões sobre essas obras difundidas na mídia. Ainda hoje li um texto falando sobre a magnitude da obra de Clarice Lispector e a banalização de seu legado.

O autor afirmava que demorou muito a ter coragem para redigir qualquer linha sobre a musa do intimismo literário, dada a complexidade de suas reflexões, e, que hoje, é cult "lançar novas luzes" sobre o pensamento de Clarice. Qualquer um acha que tem conhecimento para analisar, interpretar e entender as viagens introspectivas da autora. Eu, particularmente, ainda não consegui finalizar a leitura de um livro seu. É necessário disposição, comprometimento e um mínimo de repertório para compreender as mil camadas de seus textos. Tentei ler somente Paixão Segundo GH e confesso que o larguei. Isso foi há alguns anos. Será que um dia me darei uma nova chance para entendê-la?

Em tom confessional, admito que nos últimos meses me deleitei com obras de "valor menor", que utilizam recursos manjados como violência, melodrama, amores impossíveis e tramas mirabolantes para ocupar as lacunas do tempo. Após essas leituras, admito que não me senti mais sábia ou modificada. Diverti-me como em um relacionamento fugaz sem promessas nem planos, pautado por encontros rápidos e levianos.

Acredito que a necessidade de obras mastigadas é reflexo da agilidade característica da modernidade. O imediatismo e o anseio por emoções despertadas online estão no escopo das nossas relações pessoais e daquelas que mantemos com os produtos culturais. Não há espaço para elucubrações. Somos pragmáticos e rasos. A filosofia e a sondagem ao íntimo das pessoas, das coisas e dos fatos ficaram ultrapassadas. O aqui e agora são os ícones do momento. Será que estamos mais infantilizados também? Entregues ao escapismo proporcionado pelas obras pobres, que nos apresentam finais felizes e bobinhos?

Sinto-me renegando a história e os avanços dos existencialistas, socialistas e tantos pensadores e ativistas que romperam com as normas estabelecidas. Pensar dói, ouvi certa vez. É verdade. É reconfortante e cômodo alienar-se nas leituras vãs, no consumismo desenfreado, e em tantos outros ópios. Sou cativa dessa maré. Talvez enxergue aquilo a que me entrego, mas sou mais uma peça manipulada (ou manipuladora) desse jogo. Fico por aqui.

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