"Para esquecer, é preciso lembrar". A frase da psicanalista Maria Helena Saleme me inspirou hoje. Revisitei minhas memórias. Reli e-mails antigos, reconstituí histórias até então bem trancafiadas em lugares obscuros. Os psicanalistas acreditam que precisamos lidar com essas experiências, esgotá-las, para que consigamos esquecê-las ou não associá-las a emoções como tristeza, remorso, saudade...

Não recorri à ajuda de profissionais, mas aos poucos tento encarar fatos e pessoas do meu passado com o distanciamento que teria assistindo à vida de outra pessoa. O que teria me tornado se não tivesse sido exposta às situações que passei? Questão sem resposta...

É muito interessante essa tese de que temos que lembrar de tudo, sofrer o que baste e posteriormente esquecer. Mas não sei se é fácil. Lembro-me de outra frase do vulgo: sempre quando alguém entra em nossas vidas, deixa um pouco de si e leva um pouco de nós. Se isso for verdadeiro, o que terá sido feito de minhas partes? E o que fiz com o quinhão que me deixaram?

O que mais nos marca, certamente, são os sofrimentos e os amores intensos. As dores geralmente são relacionadas às perdas; os desvarios românticos oscilam entre o regozijo intenso e as ausências traumáticas. E tudo isso fica impresso no corpo, no coração e na mente. Não dá simplesmente para apagar tudo. Podemos aceitar, suportar, empurrar com a barriga, esconder. Mas tudo que vivenciamos estará sempre nos rondando. O mais importante é não deixar que as lembranças sufoquem o presente, aniquilando a possibilidade de um futuro diferente. A herança das experiências passadas, enfim, é essencial para que fiquemos mais sábios e confiantes de que tudo pode ser melhor!

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