Nada Noturno e as Cores Frias e Quentes

As sombras da cidade se confundem com a desconexão dos meus pensamentos. A insônia me toma. Apenas o cadenciado ruído do relógio dá ritmo ao meu corpo. Passo a mão pelos cabelos. Não sei se lanço neles tons alourados, para me converter na femme fatale, fonte de fetiche masculino, ou se conservo a minha austera cabeleira castanha, que desce levemente anelada pela costas. Este é apenas mais um, entre tantos pensamentos fugidios que me assolam. A noite, silenciosa companheira, assiste ao meu dispersar. Acabo envolvida por seus mistérios e enigmas. O véu que encobre o sol revela minhas facetas escamoteadas pelas máscaras mundanas. Os lábios são poupados de sorrir tolamente aos seres robotizados transeuntes nas esferas do poder e do pseudopoder. Um quadro, defronte a cama, revela cores quentes e frias misturadas. O amarelo, tom predominante, desdobra-se em nuances em degradée, como uma luz intensa que declina. No centro, há uma mancha azul, cortada por uma pincelada, dada a esmo, branca. Um borrão perdido. Essa pintura configura o nada. Disfarça-o de algo que possa ser interpretado de várias formas, de acordo com a subjetividade de quem o contempla. Sinônimo de liberdade?!? Não. O zero é cativo, porque não lhe foi dada oportunidade de ser outra coisa. Se algo começa do um, pode-se afirmar que lhe foi concedido o direito da criação. No entanto, o quadro mesmo não tendo significado, é belo. Um juízo de valor preenche o vácuo? Quem sabe???

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