Vida real rodrigueana. Ou será sádica?

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"Convém não facilitar com os bons, convém não provocar os puros. Há no ser humano, e ainda nos melhores, uma série de ferocidades adormecidas. O importante é não acordá-las."
Nelson Rodrigues

Ninguém melhor que Nelson Rodrigues para colocar em debate os monstros que habitam dentro de cada ser humano. Em sua obra, o autor abordou as relações escusas que acontecem sub-repticimente nas famílias de classe média brasileiras. Segundo ele, sob uma camada fina de verniz, habitam ódios, sentimentos reprimidos, incesto, adultério e todos os comportamentos vistos pelo olhar naturalista e banidos pela moral e pelos bons costumes.

Também não sei se é da autoria dele uma frase que fala algo como: nada mais fantasioso/ absurdo do que os próprios fatos do cotidiano. Fiz algumas pesquisas sobre as máximas cunhadas por NR, mas não encontrei esta específica. Mas tudo bem. A frase que abre este post para mim é suficiente para complementar a ideia a ser desenvolvida.

A decadência da instituição família, falsa moral e o lado obscuro da mente humana também são temas caros ao autor. E quem pensa que ele era simplesmente um pervertido, o Marquês de Sade tupiniquim, se engana. Nos notiários e em nossas relações pessoais quantas vezes não temos contato com histórias horrendas, que criticamos apaixonadamente?

É notável que o crítico também pode ser aquele que já ultrapassou a linha da chamada normalidade. Nos últimos tempos tenho ouvido relatos sobre rompantes de pessoas que se conectaram ao seu lado negro. Depois do ápice crise de fúria ou lascividade, arrependem-se, rogam perdão às vítimas de seus ataques, buscam a penitência e a redenção.

As pessoas/ vítimas que abrem sua intimidade e externam essas experiências estranhas e incômodas muitas vezes não conseguem entender a motivação de quem as prejudicou. Eu também não entendo. Sei que somos animais e que temos reações instintivas, mas quando as explosões do agressor castigam inocentes — seja por ataques de pedofilia, abuso de ordem psicológica e/ou sexual, entre outros, o olhar compassivo para essas atitudes é impossível.

De onde vem tantos vícios e maldades? Como alguém tem coragem de disseminar ódio e passar como um rolo compressor sobre quaisquer presas fáceis? E essas vítimas? Como irão superar os traumas desenvolvidos? Dentre os casos que tenho acompanhado, há quem flerte com o suicídio por não ser aceito como é; há quem tenha dificuldades de provar o abuso de ordem sexual sofrido; há os que se punem por terem falhado em suas missões de "chefe de família de comercial de margarina" e existem muitos outros.

A religião ou a terapia ajudam a suavizar essas questões, mas não conseguem resolvê-las. Será que cabe a cada um de nós a tarefa de enfrentar nossos bichos ou deixá-los quietinhos, para que não saiam por aí devorando outrem?

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