A dança

Será que a sabedoria vem mesmo com o tempo? Eu não concordo absolutamente com isso, nem refuto amplamente essa ideia reinante. Minha impressão é que aprendemos algumas coisas com as passagens que vivemos e buscamos também, ao longo da vida, o autoconhecimento, mas temo que há certas feridas que não se fecham. Estão sempre por lá, para nos mostrar o quanto somos humanos, falíveis, suscetíveis ao triunfo e às quedas.

Quantas partes da nossa vida e de nós mesmos são negligenciadas, escondidas num quarto escuro de nossa mente, para evitarmos confrontos diretos com emoções doloridas? Que se manifeste quem nunca omitiu de si mesmo um fato complicado, uma decepção não "elaborada", um adeus não digerido! Inúmeras vezes, colocamos a armadura e o escudo, vamos à guerra, combatemos, ceifamos vidas e depois vestimos o traje mais delicado e de tecido nobre que temos e seguimos em frente. Fazemos isso sem analisar o que ocorreu, estancar o sangue até o final, limpar os ferimentos e aceitar, de coração, os fatos.

Somos preparados e cobrados para as vitórias. Afinal, a história só enaltece e preserva a memória dos vitoriosos, dos heróis. E os demais? Caem no esquecimento total, porque ninguém relata o que aparentemente não teve êxito. E o mesmo procedimento é aplicado aos pequenos fios que compõem a trama das vidas. Quão grande é o esforço que fazemos para aniquilá-los, esquecê-los? Desejamos ardentemente proclamar apenas os triunfos, alardear nossos métodos efetivos de alcançar o cume. E a caminhada para chegar até lá, não teve quedas? O que é feito delas?

Mesmo fugindo desses episódios difíceis, os ensinamentos que ainda não recebemos sempre são novamente colocados em pauta. Pode demorar um ano, dois, dez, mas é certo que de novo seremos chamados para o duelo ou a dança com o obstáculo não superado.

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