Belíndia em pé de guerra


Belíndia. Foi assim que uma vez falaram do Brasil. Sim, tem Bélgica e Índia no mesmo território, coexistindo. Se me perguntares (sim, usei a forma arcaica, ou old school mesmo) onde vivo, respondo a ti que moro em ambos. Sou multitela, multitarefa, caminhante nesse mundo desigual, que aplaude tiranos, escraviza-se por vinténs (mais teia de aranha aqui, sou realmente old school) e acredita piamente que medidas simplistas, mecanicistas e conservadoras nos levarão ao utópico futuro de ordem e progresso.

Carecemos de estudo, de maturidade, da crítica que ilustra o óbvio: a realidade nunca foi e jamais será simplista, queridos. Gostaria que assim fosse (talvez a vida fluisse mais levamente), mas entendam que esse ópio que lhes oferecem a preços altos é ineficaz.

Acordamos o que estava enterrado em nós, sejam os ideais libertários ou os preconceitos incubados, que foram plantados por nossos antepassados. Ontem no metrô eu vi um menino preto, pobre, no chão, assistindo desenho animado num celular. E hoje, também vi por aí um menino homossexual com shorts curtos e apertados. Quis chorar pelos dois. Um por estar alijado das decisões e estar ali à própria sorte, invisível e educado por uma tela pequena. Infância solitária e largada. O outro, que deve ter penado até ter coragem de assumir seus shorts justos, agora está sujeito às injusticas praticadas por vários tipos de meninos criados e educados por telas.

Eu sou fruto da Belíndia, de privilégios e de faltas. Sou produto do meio, que já julgou, foi julgada, mas segue tentando conviver com o caos e assombrada pela inquietude.

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