Um abismo

Eu sentei lá e observei. Só olhei. Aí você me pergunta: O que você estava vendo? Eu respondo a você, atônita: Eu vi um abismo. - Como assim, um abismo? - É, um abismo. Uma coisa que eu não consigo medir. Não consigo classificar e colocar de volta na minha estante. Um buraco negro tão magnético que me atrai, sem querer. Pelo menos, eu acho que é isso.

Assim é. Acredito nos deuses com nome e sobrenome. Com milagres catalogados. Com testemunhas. Acredito no que julgo e sentencio. Creio nas palavras e nas evidências. Mas quando eu observo essa coisa nova, esse bicho estranho, meu coração se aperta porque não sei lidar com os meus sentimentos.

Tem beleza e feiura juntas. Tem poesia e preconceitos no mesmo balaio. Tem doses de vinho fino e de vinagre vadio e barato. Tem o "bem" e o "mal" juntos, na mesma embalagem, sem a etiqueta de material radioativo.

A admiração e a repulsa caminham de mãos dadas nessa dança invisível de corpos e almas. Um passo, só um, é suficiente para me lançar no espaço vazio. Tremo. De emoção, de medo, de sofreguidão. Silêncio. Pausa. Um segundo só e o mundo todo rodopia e dá piruetas dentro de mim.

Cada pessoa é um abismo. Dá vertigem olhar dentro delas. Freud.

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