A era da desconstrução: casamento gay e as faces do amor

Os livros de colorir nos dão a impressão falsa de que criamos algo genuinamente artístico e tiram nossa atenção da verdadeira cultura que vibra por aí. Em livre adaptação, com essas palavras o jornalista Zeca Camargo definiu o nosso processo atual de decodificar movimentos e ídolos que circulam em nosso meio. Decodificar um ídolo a mim soa como entender uma pessoa que se destaca das demais, identificar-se com ela, amá-la, desejá-la e admirá-la.

Engraçado, que nossa época parece mais propícia à desconstrução que ao surgimento de tendências. Essa semana o casamento gay foi aprovado nos EUA e esse fato causou muita comoção no Brasil. Em vários perfis no Facebook figuravam fotos estilizadas com as cores do arco-íris, símbolo máximo da luta pelos direitos dos homossexuais. E as pessoas proclamavam que essa decisão representava a vitória do amor.

Na mesma linha da desconstrução de mitos, ideias criadas, conceitos, hoje vi sendo assumido, também nas redes sociais, um relacionamento entre um colega de faculdade e uma funcionária da referida instituição. Não sei calcular exatamente a diferença de idade entre ambos - ela algumas décadas mais velha -, mas qualifico esse como um ato de coragem, nem tanto pela diferença de idade - que ainda posiciona-se como um tabu em nossa sociedade - mas pelos papeis de ambos na instituição. Aluno e funcionária, orientadora e orientando, ser experiente e aprendiz. 

Há dias, uma conhecida - moça muito bonita, cheia de sonhos e muito medo - envolveu-se com um rapaz comprometido, que, por sua vez, além de relacionar-se com ela, flertou com outra pessoa de seu convívio. A primeira moça citada perdeu o rumo, deixou-se abater, não se alimentava, precisou de antidepressivo. Tem preconceito contra o casamento gay, mas permitiu-se sonhar com um sujeito que já tinha alguém e abateu-se profundamente por perceber que seu sonho de mudá-lo, amá-lo e consertá-lo simplesmente foi abortado.

Ideias preconcebidas, ilusões, movimentos massificados, tudo isso merece análise um pouco mais acurada. Digo isso não porque acredite que existam regras invioláveis quando falamos em comportamento e que tudo deva ser regido pela razão. Pelo contrário: ouvir nossos sentimentos e conhecer nossos valores pessoais ampliam nossa sabedoria e nos permite transcender as crenças construídas e nos colocarmos no lugar do outro. Em síntese, para se adaptar às mudanças é preciso compreender mais e julgar menos. 

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